A 7 e 8 de Outubro de 2023, um grupo de amigos e camaradas decidiu organizar um espaço informal de debate e convívio - o Encontros do Nadadouro - dedicado à discussão e estudo do libertarismo social, anarquismo e, sobretudo, de outras formas de organização da sociedade, mais horizontais e transparentes.
A escolha da freguesia do Nadadouro, concelho das Caldas da Rainha, para a realização destes Encontros foi propositada, uma forma de luta contra a centralização política que tanto caracteriza Portugal.
O programa de dois dias incluiu discussões como:
Saúde e Economia enquanto faces ventral e dorsal do corpo humano social;
Transparência e integridade processual na actividade política;
A importância da horizontalidade no combate à corrupção e capitalismo predatório;
Programas eleitorais não são meros formalismos mas sim trave-mestra da Democracia representativa;
Política em quarentena, um cordão sanitário à dissidência.
Luísa Álvares, farmacêutica especializada em economia, trouxe a debate as relações que existem entre a saúde humana e a saúde das economias. Quais os determinantes de saúde e bem-estar? foi o ponto de partida para uma análise de gráficos, estudos e dados oficiais dos impactos das recentes escolhas políticas nacionais e europeias em matéria de saúde, com particular foco nas consequências da primazia da economia em detrimento da qualidade dos serviços prestados.
Marco Craveiro, bioquímico especializado em imunologia, centrou a discussão na forma como diversos governos, incluindo o Português, em resposta à crise COVID-19, adoptaram uma variedade de políticas de contenção desenhadas especificamente para restringir liberdades civis e direitos fundamentais dos cidadãos. Nomeadamente a utilização da pandemia e do estatuto estado de emergência para implementar políticas repressivas como a proibição à livre circulação e a classificação da dissidência política e de opinião como desinformação.
João Vasco Gama, professor de Economia e membro do partido LIVRE desde a sua fundação, apresentou um conjunto de propostas que visam a promoção da transparência e a integridade nos processos democráticos. Entre elas, a importância da documentação e escrutínio da actividade política, tal como a definição de códigos de conduta e regimes de incompatibilidade. A promoção e desenvolvimento de estruturas partidárias que facilitem a distribuição equitativa do poder e da gestão corrente foi outra das propostas avançadas por J.V.G. como passo fundamental à realização plena da Democracia.
Para Filipe Martins, “o informático mais analógico do mundo”, o programa eleitoral é a trave-mestra da Democracia Representativa. Na sua apresentação, F.M. destacou o quão mal programas eleitorais são tratados pela classe política, salientando a importância do mandato popular se restringir ao programa eleitoral, caso contrário não é um mandato, mas sim uma carta branca. A confiança é a base da democracia, e essa confiança conquista-se fazendo o que se promete e não tratando programas como pró-formas.
Já Tiago Mota, formador e educador em projetos de reconversão de carreira profissional, fez da corrupção ponto central da sua intervenção. A política é por natureza uma actividade favorável de corrupção dada a promiscuidade entre políticos e interesses económicos. O tráfico de influências resultante da subordinação do poder político ao poder económico é uma das principais causas da descredibilização da Política e tem colocado em risco a viabilidade dos nossos sistemas democráticos. Segundo T.M., a solução passa por uma política tendencialmente mais horizontal, mais directa e participativa, um poder político mais distribuído e descentralizado.
Mas os Encontros do Nadadouro de 2023 não foram apenas momentos de debate e tertúlia. A ideia dos Encontros é também a criação de um espaço dedicado à discussão do libertarismo social e anarquismo em Portugal.
Com este primeiro Encontros começámos por criar a massa crítica necessária para outros voos, ou melhor, nados.